Reflexões sobre Migalhas Emocionais
Tenho pensado muito sobre o assunto. Quero que fique claro que não é só a decepção pessoal que me incomoda, mas o conceito mais amplo que parece ser o molde de babaquice a ser seguido.
DaMatta já dizia que, na cultura brasileira, a “mulher de casa” é aquela digna de respeito, enquanto a “mulher da rua” é vista como uma diversão passageira. É uma ideia antiga e persistente, que molda pra caramba a forma como os homens nos tratam. Quando entramos no âmbito sexual viramos mulheres “da rua”, meio que como bonecas utilizáveis e descartáveis.
O mais assustador é que muitos repetem isso sem perceber, apenas por hábito e achando que são o supra sumo do cara legal. Cresceram vendo esse comportamento e o internalizaram sem questionar. É como se os sentimentos humanos fossem invisíveis, meras distrações que podem ser ignoradas quando não se encaixam mais em seus interesses.
Para esses homens, nossa dor é uma consequência secundária, algo que não chega a ser levado em conta na equação final porque não somos humanas. Pelo menos não tão humanas quanto eles. Falham em nos ver como seres complexos, com emoções, expectativas e necessidades tão válidas quanto as deles.
Fico espantada com a naturalidade com que esses caras passam pela vida deixando um rastro de merda e trauma sem qualquer remorso. Não é que eu queira qualquer um deles de volta, longe disso! Mas adoraria ver voltar só para poder dizer “não, obrigada”. Há algo de perversamente doce nessa ideia, né? É dolorido se recuperar desse tipo de coisa, principalmente porque nunca recebemos o pedido de desculpa adequado. É ferida continuamente aberta.
A vida tem um jeito engraçado e perverso de nos ensinar lições importantes. Mas sempre dá um jeito de matar o que deve morrer, e enfim foi pro espaço a minha vontade de viver um romance e cuidar de alguém. Era algo doce e bonito que estava aqui apesar dos traumas, mas agora morreu aparentemente de vez. E o luto por esse pedaço que morre é real.
Ninguém nunca mais subirá no pedestal que consiga me colocar nessa posição de boneca descartável novamente. Sou até meio louca, mas essa burrice não repito. Sinceramente, sinto que quem perde não sou eu, não mais.
No final, sempre tenho a mim mesma. E isso vai ter que ser suficiente.
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