Precipício
O amor é um precipício, a gente se joga nele e torce para o chão nunca chegar.
Lisbela e o Prisioneiro
Nunca me apaixonei. Mesmo o homem que amei eu aprendi a amar. E amei muito! Talvez ainda ame e vá amar para sempre, mas não na mesma configuração de antes. Entenda! Não o quero de volta, nunca vou querer. O que passou foi ótimo e pertence ao passado. Mas o amor não. Aquela coisa de querer que seja feliz, mesmo que longe, é verdadeira.
Mas não é o que importa. O que importa é que nunca me apaixonei. Apenas uma vez, aos 12 anos, o que não vale porque eu era uma criança e foi bem traumático. E com certeza está aí a raiz de não me apaixonar de fato, apesar de me apegar romanticamente aos que passaram pela minha vida. Ex-namorados pelos quais sofri quando o namoro acabou. Tem um ali que eu até voltaria se ele me quisesse, mas não quer, e tudo bem.
E também não é o que importa. O que importa é que nunca me apaixonei.
De voar as bandas. De perder o rumo. De coisar a cabeça. De querer que o tempo não passe. De pegar fogo na pele. De não pensar em outra coisa. De contar pra todo mundo. De romantizar e dramatizar. De ser imatura. De declarações bobas. De falar com voz ridícula. De escrever iniciais em árvores. De sentir borboletas no estômago. De querer ser vista. De desejar. De fazer burrice. De nunca imaginar que pode acabar mal.
Já tive alguns sintomas, mas não vale. Quero todos! Quero ser tola. Pular no precipício. Me esborrachar no chão!
O problema é que não tenho mais idade pra isso. Os 36 anos de vida e de traumas me impedem de pular. Minha alma ariana clama por controle. A ansiedade prevê todos os piores cenários possíveis e ergue um milhão de muros. E mesmo quando tudo parece favorável o coração dá três passos pra trás e pede calma. Vai devagar. E eu que sou puro impulso freio todos eles.
Talvez a paixão seja uma prerrogativa dos jovens. E eu não sou mais jovem. Perdi o tempo e a chance de ser inconsequente. Ficou essa lacuna, essa falta existencial de não ter vivido algo que parece incrível e horrível ao mesmo tempo. Não tenho essa história pra contar. Gosto de ter história pra contar.
Mas, se um dia a paixão vier, eu volto aqui pra narrar.
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